terça-feira, 13 de outubro de 2009

Iniciativa Privada x Concurso Público

Um dos maiores preconceitos que tenho a considerar diz respeito as pessoas que se dedicam exclusivamente para concursos, como muitos que vejo por aí, considerando que a iniciativa privada não valoriza um bom profissional, é demissível ad nutum. A estabilidade do servidor público vale qualquer desafio.

Em primeiro lugar, pessoas que trabalham em empresas privadas também tem uma 'seleção de profissionais', como em concursos, muita vezes para cargos de Trainee em grandes empresas o se assemelham a grandes concursos, logo a dificuldade é a mesma. A diferença é o foco.

Em segundo lugar, bons profissionais que se adaptam às realidades da empresa, tem grande possibilidade de manter os seus empregos por muito tempo, assim como os servidores públicos que ficam locados em determinada função se desempenharem o mínimo para a manutenção dos seus cargos.

Enquanto na empresa privada o máximo é o mínimo necessário para a manutenção do cargo, no serviço público o mínimo é o máximo.

Já comecei a ler relatos de pessoas que foram aprovados em concursos e que depois de terem sido aprovados encontraram em outro concurso público motivação para continuarem se dedicando; logo, normalmente o que o concursando quer é aprovação, não o cargo que está disputando vaga.

Na iniciativa privada, você está concorrendo a determinada vaga por ter aptidão a ela, ou seja, você tem o perfil que a vaga requer, logo, se continuar se preparando para outra vaga disponível em determinada empresa, você tem que se adequar a ela novamente. É a mesma situação, portanto, apenas com a diferença de que 'uma promoção à vaga aberta necessita de um ótimo rendimento na vaga em que se atua, ou seja, a vaga anterior é o trampolim para outra', em concurso público 'a vaga em outro concurso tem maiores vantagens financeiras ou o cargo tem mais status, o seu histórico profissional como servidor público anterior não tem qualquer interesse para efeitos de aprovação'.

Essa diferença faz uma grande diferença no que tange à perspectiva do profissional, ou seja, enquanto o profissional da área privada precisa sempre atualizar seus conhecimentos para chegar à excelência no seu cargo para promover-se, o concursado precisa estudar ainda mais para passar em outro concurso ainda melhor!

Excetuando-se à regra, existem servidores públicos que amam a profissão que exercem: juízes, defensores públicos, procuradores, administradores, engenheiros, etc. Por outro lado, o que vemos em cartórios de Fóruns, por exemplo, são pessoas que estão ali trabalhando e estudando muito para saírem da condição de 'auxiliares ou assistentes' para serem 'analistas'.

Qual a criança que responde: "Quero ser oficial de Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo"? Nenhuma. Então, prestam porque a remuneração é boa. Simplesmente. Pagam bem e trabalha pouco. É esse o raciocínio.

Se você tem um pouco mais de pensamento crítico em relação a essa postura, você deve se questionar se está entrando no mundo dos concursos públicos porque quer ser mais um no mundo fazendo com que as tetas do Estados sejam mamadas ou se realmente aquele concurso que irá prestar terá um profissional qualificado e que poderá agregar a sociedade uma melhoria na prestação de serviços.

Um outro preconceito que tenho é em relação ao "QI".

Quem indica tem um grande peso na contratação tanto na iniciativa privada quanto em concursos públicos. Enquanto na carreira privada, é escancarado: ‘contrate fulano porque é filho do cicrano’, o dono de uma empresa pode fazer isso sem qualquer peso na consciência, nos concursos públicos o que vemos é o oposto, não pode haver essa manifestação de interesse pessoal desmedida, somente em concursos que possuam elementos subjetivos na avaliação de candidatos é que poderá ter a influência do "QI". Ou seja, em prova objetiva isso é impossível. O concursando tem que acertar o mínimo necessário para ser habilitado à fase seguinte.

Assim, se um concurso é composto apenas por prova objetiva, dissertativa sem identificação, o candidato bom supera o por "QI" imediatamente. Ele não tem qualquer influência no resultado, portanto, existe a seleção natural dos bons x ruins.

Nesse momento é inegável que filho de peixinho – ou seja, aqueles que tem uma certa influência no meio – tenham uma sorte maior do que os outros, tanto na carreira pública quanto na privada em relação à elementos subjetivos de análise do candidato.

- Ah, seu nome é X Viera Filho. Você é filho do Dr. X Viera?

- Sim, sou.

- Grande profissional. Grande carreira pública. Então, como ele está?

- Muito bem. Obrigado.

- Que bom. Gosto muito dele. Conheço pessoalmente.

- Que bom. Vou dizer a ele que o fulano manda notícias.

- Sim, faça isso. Então, vamos às perguntas. Fale-me sobre a diferença entre tutela antecipada e efeitos da sentença.

A pessoa fala por meia hora e sai com a aprovação na prova oral com uma pergunta qualquer simples de tudo porque é filho do fulano e o examinador era amigo do pai. Porém, se for um inimigo íntimo, um concorrente a menos, se o mesmo candidato não estiver preparado. A preparação, portanto, nesses casos tem que ter o fator sorte!

E sorte, como todo mundo sabe, é bem vinda a todo momento. Em concurso público, ainda mais!

Empatia, sorte, boa aparência, bons modos, etc., é o conjunto de habilidades necessárias para qualquer profissional, seja da iniciativa privada, quanto nos concurso para serviços públicos.

Eu já vi esse tipo de coisa acontecer, por isso, não me assustaria nem um pouco ter a absoluta certeza que provas com caráter subjetivo (como provas orais) possam ser manipuladas de acordo com o interesse do julgador. Mas, a fé tem que ser na lisura do certame, senão, nunca ninguém passaria se não fosse filho de tubarão, nem posso dizer ‘filho de peixinho’. A sorte é igual para todo mundo.

Sendo assim, uma barreira a menos em relação ao preconceito que tenho sobre concursos. A iniciativa privada e os concursos guardam semelhanças e, portanto, as diferenças são de caráter subjetivo, depende daquele que consegue a aprovação e é um bom profissional, dedicado e sabedor de suas responsabilidades, assim como o profissional de empresa que integra um time e coopera para o crescimento e desenvolvimento de sua equipe, da empresa, do setor produtivo, etc.

Eu não serei uma 'servidora que o mínimo é o máximo'. Esse é um ponto moral que quero ressaltar.

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